A indústria alimentícia tem sido cada vez mais cobrada a substituir corantes artificiais por corantes naturais, que são, em sua grande maioria, compostos bioativos, com capacidade antioxidante considerável, além de comumente apresentarem atividades anti-inflamatórias e antimicrobianas. Essa necessidade ocorre devido aos problemas de saúde que os corantes artificiais podem desencadear, como alergias, distúrbios neurológicos e, até mesmo, o desenvolvimento de câncer.
No entanto, os corantes naturais, geralmente, são sensíveis à oxidação por exposição à luz, ao oxigênio e à altas temperaturas. Durante o processamento e armazenamento, é comum a descoloração e alteração da cor, o que impacta, diretamente, na aparência do produto alimentício.
Dentre os corantes naturais, aqueles de coloração azul são os mais raros. Os conhecidos geralmente são produzidos a partir de variações de pH para antocianinas, o que os torna muito instáveis, podendo variar para tons de roxo a vermelho, a depender das condições a que são expostos. Outro corante azul é obtido a partir de algas, denominado de ficocianina, mas sua obtenção envolve um processo de extração e purificação que o torna extremamente caro e, por vezes, inviável.
Solução encontrada na Uesb – Nesse sentido, em busca de uma técnica limpa e segura de produção de corante azul, que assegurasse a estabilidade, Jéssica Souza Ribeiro desenvolveu a pesquisa intitulada “Produção de corante natural azul de jenipapo encapsulado com amido de araruta e maltodextrina de mandioca”. Com orientação da professora Cristiane Martins Veloso, a pesquisa foi desenvolvida no Programa de Pós-Graduação em Engenharia e Ciências de Alimentos da Uesb, campus de Itapetinga.
De acordo com as pesquisadoras, a produção de corante azul a partir de jenipapo pode ser considerada um processo barato, que demanda equipamentos simples. Além disso, a técnica de encapsulação reduz os custos de transporte e armazenamento, contribuindo para a sua viabilidade econômica. “A encapsulação, normalmente, é realizada com produtos de alto custo, como gomas ou amidos quimicamente modificados ou com maltodextrina proveniente de milho transgênico. Ao se utilizar amido de araruta e maltodextrina de mandioca nesse processo, são empregadas fontes seguras do ponto de vista toxicológico e ambiental”, explicam as pesquisadoras.
Ribeiro acrescenta que a escolha dessas duas fontes de carboidratos como materiais de parede para a encapsulação “partiu da intenção de valorizar produtos regionais e agroecológicos, visto que se tratam de duas raízes produzidas pela agricultura familiar, livres de organismos geneticamente modificados (GMO free, não-transgênicas)”, defende.
Com o desenvolvimento da pesquisa, as cientistas conseguiram produzir corantes em pó através de duas técnicas diferentes. Uma utilizou o método por spray drying, que é o mesmo utilizado na fabricação de leite em pó, e a outra a produção de lipossomas seguida de liofilização, uma técnica inédita na área. Dessa forma, de acordo com as pesquisadoras, o corante produzido apresentou características desejáveis, facilitando seu armazenamento, conservação e utilização pela indústria alimentícia e farmacêutica, por exemplo.
Aplicação – O corante natural azul de jenipapo pode ser utilizado em diversos produtos, seja em alimentos, medicamentos ou cosméticos, sendo uma alternativa promissora aos corantes artificiais, que possuem vários riscos associados ao seu consumo. É importante destacar que a ocorrência de corantes naturais estáveis e de coloração azul verdadeira é considerada rara, o que é mais um diferencial do trabalho desenvolvido.
As cientistas destacam, ainda, a importância do desenvolvimento de pesquisas na área de produtos naturais e de novos produtos, tanto pelo impacto sobre a saúde dos consumidores como pela oportunidade de promoção do desenvolvimento regional e aferição de renda para as comunidades e agricultores familiares produtores ou extrativistas das matérias-primas utilizadas na elaboração da pesquisa, como a araruta, a mandioca e o jenipapo.
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